HISTÓRICO DA REDE PUXIRÃO

A emergência de identidades coletivas no Brasil nas últimas décadas tem revelado a existência de diversos grupos étnicos, organizados em movimentos sociais, que buscam garantir e reivindicar direitos, que sempre lhes foram negados pelo Estado. Desta forma, compreendem-se sem exaustão os motivos para o qual um país tão diverso em sua composição étnica, racial e cultural, a persistência de conflitos oriundos de distintas visões de mundo e modos de vida, que desencadeiam desde o período colonial, lutas pela afirmação das identidades coletivas, territorialidades especificas e reconhecimento dos direitos étnicos.



Na região Sul, especialmente no Paraná e Santa Catarina, a invisibilidade social é uma das principais características dos povos e comunidades tradicionais. Até pouco tempo atrás, a inexistência de estatísticas e censos oficiais fez com que estes grupos elaborassem seus levantamentos preliminares numa tentativa de afirmarem sua existência coletiva em meio a tensões, disputas e pressões que ameaçam seus diretos étnicos e coletivos garantidos pela Constituição Federal de 1988 e, diversos outros dispositivos jurídicos infraconstitucionais[1].



Destas demandas surge, na região Sul, a Rede Puxirão dos Povos e Comunidades Tradicionais, fruto do 1º Encontro Regional dos Povos e Comunidades Tradicionais, ocorrido no final do mês de Maio de 2008, em Guarapuava, interior do Paraná. Neste espaço de articulação, distintos grupos étnicos, a saber: xetá, guaranis, kaingangs, faxinalenses, quilombolas,benzedores e benzedeiras, pescadores artesanais, caiçaras, cipozeiras, religiosos de matriz africana e ilhéus; tais segmentos se articulam na esfera regional fornecendo condições políticas capazes de mudar as posições socialmente construídas neste campo de poder. Ademais, a conjuntura política nacional corrobora com essas mobilizações étnicas, abrindo possibilidades de vazão para as lutas sociais contingenciadas há pelo menos 3 séculos, somente no Sul do País.



quarta-feira, 6 de junho de 2012

Revista ISTOÉ publica matéria sobre as Benzedeiras do MASA


http://www.istoe.com.br/reportagens/210785_PROFISSAO+BENZEDEIRA


Profissão benzedeira

Por que o trabalho de curar com orações e plantas medicinais começa a ser reconhecido oficialmente no País

Flávio Costa

TRADIÇÃO
Só em duas cidades do Paraná foram identificadas 295 benzedeiras, que atendem, prioritariamente, crianças

Foi o pai de Ana Maria Santos, 46 anos, moradora de Rebouças, distante 170 quilômetros de Curitiba, no Paraná, que lhe ensinou o ofício de benzedeira. Mas ele mesmo pouco benzia, por conta da marginalização imposta pelas autoridades locais à atividade de cura popular, amálgama de tratamento espiritual aliado ao uso de ervas medicinais. “É um dom que a gente tem. Mas não somos nós que curamos, e sim Deus”, afirma a benzedeira, que atende uma média de 20 pessoas por semana, a maioria delas crianças com problemas de saúde comezinhos, como micoses, cólicas abdominais e até “susto” – medo de assombração. Ao contrário do pai, Ana Maria pode benzê-las em paz, desde que a prefeitura da cidade sancionou, em fevereiro, uma lei que reconhece o trabalho das praticantes da chamada saúde popular. Logo depois, foi a vez de São João de Triunfo, no mesmo Estado, adotar lei semelhante. 

São dois casos pioneiros no Brasil. Não por acaso. Nessas duas cidades foram identificadas 295 benzedeiras pelo Movimento de Aprendizes da Sabedoria, organização responsável pela aprovação das leis, que chegou a receber um prêmio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. O órgão federal já classificou a cura por meios não tradicionais como um patrimônio imaterial da cultura brasileira. “Acreditamos que essas iniciativas devem ser adotadas em outras cidades e Estados, desde que as benzedeiras participem do processo”, afirma Taísa Lewitzki, uma das coordenadoras do movimento. Agora, as rezadeiras têm livre acesso a qualquer terreno dos dois municípios paranaenses, mesmo os privados, para coletar ervas, desde que respeitadas as leis ambientais. Mas existem aquelas que nem precisam sair de casa. “Eu mesma planto no meu quintal mais de 40 plantas medicinais”, diz a benzedeira Agda Andrade, 57 anos.

Para a antropóloga Geslline Giovana Braga, da Universidade Federal do Paraná, a legislação aprovada nos dois municípios carrega, sobretudo, força simbólica. “Mostra que as benzedeiras não estão desaparecendo. Eu jamais ouvi benzedeira alguma  proibir o uso do remédio ou suspender um tratamento médico, pelo contrário”, afirma Geslline. Essa realidade de preconceito começa a mudar aos poucos. Estados como Ceará e Rio Grande do Norte estudam também reconhecer a chamada saúde popular. No município cearense de Maranguape, inclusive, médicos do Programa Saúde da Família atuam em conjunto com as rezadeiras no combate à mortalidade infantil, com resultados satisfatórios.



Nenhum comentário:

Postar um comentário